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Rapidez no gatilho

Nos primeiros tempos de trabalho quando esbarramos num problema ou num pedido que no momento quase parece absurdo e impossível de solucionar, começamos a suar, a tremer, a silenciar ou a falar demais. Por vezes bloqueamos e só apetece telefonar à mãe e ao pai a pedir socorro. Noutras situações queremos agir tão depressa que tomamos decisões sem pensar nas suas consequências. O melhor é parar um pouco, respirar fundo, lembrarmo-nos se estamos perante uma situação ensinada no ensino superior (como um acidente, um assalto, uma morte...) ou se é algo com que já lidamos no passado. Há muito em que pensar e, apenas com o tempo e as mais variadas situações, aprendemos a agir com certa naturalidade, mesmo que por dentro estejamos em pânico. Algo com que os Guias-Intérpretes lidam muito é a pressão do horário: chegar a determinado sítio a determinada hora, impreterivelmente. Quando é-nos entregue um programa com horas rigorosas estudamos o percurso de forma a que estejamos no local pretendido à hora pretendida. Temos de pensar sobretudo no trânsito, de lembrar estradas e fluxos de trânsito para escolhermos o melhor. Mas por vezes, e utilizando uma expressão bem portuguesa, "sai o tiro pela culatra". Mas chegamos à hora pretendida. No entanto, por vezes, ao longo do caminho, ligam-nos do lugar de destino a pedir para chegarmos mais depressa, ou para atrasarmos, pelos motivos mais diversos possíveis. E esse atraso varia de 5 a, acreditem, 15 minutos. Rapidamente temos que escolher outro caminho, sem dar a entender que estamos a fazê-lo. Chegar mais rápido é fácil, agora atrasar... é dos momentos que gosto menos. O motorista, gentilmente, abranda de imediato, mas por vezes tem que voltar a relembrá-lo (sobretudo se o jogo do Benfica estiver para começar!). Depois tentamos abrandar de modo a conseguir parar em todos os sinais vermelhos (mas quantas vezes estamos com pressa e não temos nenhum sinal verde! ou precisamos atrasar e não conseguimos apanhar um único sinal vermelho. Parece de propósito!). Optamos também por fazer caminhos com mais monumentos para termos mais a explicar. Tentamos, acima de tudo, agir como se esse fosse o caminho mais que habitual para o tal destino. Certa vez estava com um grupo que tinha um jantar marcado no CCB. Estavamos em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, mas já quase na curva para o CCB quando ligam-me a pedir para atrasar 10 minutos. 10 minutos? E eu em frente ao Mosteiro! Mas tinha que o fazer, "por favor" diziam eles do outro lado da linha. De imediato pedi ao motorista para abrandar e rapidamente disse "precisamos de 10 minutos". "Então e agora?". "abrande e ande muito, muito devagar, vou explicar a fachada". E assim o fiz. A explicação já não poderia ser profunda, visto já estarmos quase a deixar de ver o mosteiro. Rapidamente reinventei o discurso. Apontei o Planetário, demos a volta à Praça do Império, que por sorte tinha a fonte a funcionar. Paramos de modo a poderem ver o Padrão dos Descobrimentos. Fiz questão de salientar a ponte e até, imaginem, conseguimos ver o Cristo Rei. Não é linda esta paisagem? E nisto toca o telefone: "podem vir". Terminamos o circulo à volta da praça! Eu só pensava se aquilo tudo parecia um carrossel! Paramos à porta do CCB, eles saíram e alguns disseram: "foi muito interessante, Lisboa é bonita". Sorri e por dentro exclamei "Uff". Trabalho de equipa!

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