Creio que já todos um dia, num serão com amigos tiverão como tópico de conversa a tradução de nomes de cidades e países: porquê dizer nova iorque e não new york, porquê dizer lissabon e não lisboa. Noto que uma grande maioria é contra a tradução dos nomes das cidades, defendem que é como traduzir um nome de pessoa. Mas a verdade é que não é bem assim. Quando chegamos num país, cuja língua é totalmente desconhecida e com uma sonoridade muito diferente da nossa, acreditem que trazudir é essencial para memorizarmos onde estamos, onde queremos ir e onde fomos. Lisboa foi a cidade que sempre traduzi (Lisbonne, Lisbon, Lissabon). Creio que há poucas mais em Portugal que se possam traduzir, mas não chegando a fazer tradução reparava que muitos colegas diziam por exemplo em francês Sintra com aquela entoação no A - Sintrá! E perguntava-me se seria mesmo necessário. Com o tempo vim a verificar que sim, porque o estrangeiro não habituado a determinado som não percebe a que local nos estamos a referir. E quando temos que combinar pontos de encontro ou programas, acreditem que fica mais fácil dizer com essa entoação do que insistir num quase nacionalismo! A língua portuguesa é uma língua nasal, com sons fechados e com muitos sons de -s, -ch e -x, o que os confunde muito. Para não falar do -nh e -lh ou do ã! Deixo-vos um exemplo de como pode ser difícil pronunciar uma cidade: pouco tempo depois de começar a trabalhar, após uma visita de Lisboa um casal francês perguntou-me: comme est-ce qu'on fait pour aller à Cáquê! (era assim que soava o que eles diziam - cáquê). Eu fiquei um pouco atrapalhada porque não estava a identificar o local! Eles insitiam Cáquê, Cáquê. No intuito de descobrir que local seria perguntei se tinham ideia de onde se situaria, porque queriam ir lá, o que queriam visitar para ver se através dessas indicações descobria o local. Pois Cáquê não me soava a nada! Mas ao fim de uns minutos descobrimos... Cascais!!!!! E foi tão engraçada a reacção deles à sonoridade da palavra Cascais, a repetição do -s fascina-os. E a partir daí reparei como Cascais fascina quase todos os turistas. Não há um tour em que não diga no autocarro Cascais e que os 40 não repitam baixinho para eles, como que a memorizar - cassssssscaissssss (com o ênfase nos -s), é um som que dá-me sempre vontade de rir. Por segundos ouve-se apenas cascaisss cascaisss cascaisss. Como também não esqueço um senhor português que me criticou veemente por ter traduzido o nome da Avenida da Liberdade. Pergunto-me: se posso facilitar o tempo das pessoas numa cidade que não conhecem porque hei-de exigir que aprendam apenas o nome português. Digo-lhes por exemplo Liberty Avenue e sempre de seguida Liberdade (até porque se precisarem de ajuda será mais fácil tentar dizer em português), mas questionei o senhor se ele também dizia sempre Champs Elysées ou Campos Elísios ou Fifth Avenue e não Quinta Avenida. E se pronuncia as cidades japonesas em japonês ou simplesmente München... não será que diz Munique?
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