Existe em turismo um segmento de mercado dedicado aos peregrinos - o turismo religioso.
Grupos de pessoas que têm uma mesma fé e devoção e que se juntam para viajar conhecendo um ou vários países, mas com ênfase na parte religiosa (obviamente). Os tours são construídos com base no santo a quem são devotos visitando igrejas muito específicas e locais de peregrinação.
Os chefes deste tipo de grupo são normalmente padres, pois são eles que organizam com mais frequência este tipo de visitas, tendo em conta que trazem maioritariamente pessoas das suas paróquias.
Viajar com estes grupos tem do bom e do pior, porque infelizmente nem sempre são reflexo dos seus próprios ensinamentos. E se já vivi das experiências mais tocantes, simples, felizes que servem de exemplos de vida, também já experienciei das situações mais aterradoras e assustadoras.
Hoje conto uma menos boa pois marcou-me para sempre:
O grupo era polaco e trazia o seu pároco, um senhor que já viajava para Portugal há mais de 20 anos e que, segundo dizia ele: "sabia muito melhor a história e tudo sobre Portugal que qualquer Português"! Esse senhor não queria contratar um Guia, mas como a lei assim exige e por insistência da agência portuguesa, acabou por aceitar. A razão maior foi o medo da multa que teria de pagar caso lhe fosse pedida a identificação profissional.
Nesse grupo eu falava alemão para o pároco e ele traduzia para o grupo em polaco. Foi daquelas situações ingratas que já descrevi aqui uma vez. Parecia-me que nada do que eu dizia estava realmente a ser traduzido, mas tive que continuar! A certo momento ele não quis mesmo mais traduzir e quis só discutir apenas o tópico da obrigação de ter um Guia Nacional consigo.
A sua opinião é que era totalmente desnecessário e que era uma pena haver mais fiscalização, porque ele já cá tinha vindo e conseguia escapar sempre. Mas "pelos vistos agora era mais difícil!".
Sabem como escapava?
"Vestia a minha batina de padre e explicava todos os monumentos assim, acha que algum polícia ía pedir uma identificação a um padre? Estes tempos agora é que estão todos trocados. Pagar multa? Pfff"
Eu fiquei de boca aberta e só queria ter tido a coragem de ter dito - "Todas as vezes em que fez isso, confessou-se depois?"