Estão a chegar ao fim os 9 meses da minha gravidez, a primeira.
Tudo foi novidade, todas as sensações físicas e emocionais, todo o relacionamento com o mundo - no meio profissional, no seio da família, no meio dos amigos, no contacto com os "estranhos".
É uma aventura, que cada mulher viverá do seu modo, a expressão "cada gravidez é uma gravidez" é tão verdadeira, mesmo sendo tão simples.
A minha gravidez exigiu mais repouso que o "normal", reduzi muito o ritmo de trabalho, só pude exercer certo tipo de funções e de tours, precisei de mais descanso.
Para quem está habituada a trabalhar 30 dias seguidos em época alta, muitos deles com uma carga horária de 16 horas por dia, imaginem o esforço psicológico para subitamente reduzir o horário de trabalho para metade - tanto nos dias, como na duração do próprio dia.
Mas, porque escolhi viver esta nova aventura, fez-se e fez-se com muito amor.
No início estava com algum receio, como iriam reagir as agências? O que puderia significar esta redução numa profissão liberal? Mas, rapidamente, os meus receios dissiparam. As agências com quem trabalho maioritariamente têm mesmo um lado ético e humano com que me identifico e, talvez por isso, trabalhemos tão bem juntos. Todos apoiaram, todos me receberam com abraços, com rostos sorridentes de felicidade e disseram, "conta connosco, claro".
E contei! Houve sempre o cuidado de me perguntarem se a função que me estavam a dar seria a melhor para mim, se os horários estavam bem, se tinha tempo para comer e descansar, trocaram todos os pedidos que fiz, diziam-me "escolhe o que queres fazer ou diz se já não podes mais."
Senti-me verdadeiramente apoiada e feliz e senti que quando voltar ao activo, eles continuarão lá para mim. Permitam-me um agradecimento especial às equipas da Ibercruises, Events by TLC, Portimar, Portugal Travelteam e Top Atlântico.
Outro ponto de apoio importantíssimo foram os colegas. Há pessoas muito especiais na minha profissão, colegas que sabem partilhar, apoiar, ajudar o outro colega. Substituíram-me quando precisei, trocaram de tours sem colocar qualquer questão (e se houve vezes em que ficaram com tours muito exigentes quando até lhes tinha sido dado programas tão mais leves, mas mesmo cansadíssimos aceitavam as trocas), deixavam-me ser a primeira a ir embora quando trabalhavamos em grupo, deixavam-me ser a primeira a ter o tempo da refeição, etc
Tudo isto pode parecer muito lógico, mas sabem quando a situação é real e tem de ser vivida e vocês de repente esbarram com pessoas que fingem que não vos vêem, que não percebem a vossa situação porque não querem mesmo, verdadeiramente ajudar? Pois é, essas pessoas que pensamos que não existem, existem, e talvez já todos nós tenhamos passado por situações assim, em que ficamos boquiabertos porque aquilo que seria lógico não aconteceu! Mas eu tenho sorte!
Assim, aos meus colegas, um grande obrigada! Às "minhas meninas" - Claudia, Carla, Marta, Joana, Sara, Rita, vou ser muito lamechas e dizer adoro-vos; mas também fica um abraço à Ju, à Carla Mira, Ana Khalil, ao Luís e sei que muitos mais teriam ajudado se tivesse sido necessário.
Também agradeço aos motoristas, que guiavam com extra cuidado, que não me deixaram carregar as malas dos auriculares, que me perguntavam a toda a hora se estava bem!
A profissão de Guia exige muitas horas de autocarro, muitas horas em pé, muitas horas ao sol, horários específicos de comida, de paragens de WC, tours realizados em eléctricos ou barcos ou até de bicicletas, jantares que terminam tardíssimo, e muita paciência para lidar com as pessoas. E se houve turistas que eram extremamente carinhosos, que se preocuparam comigo como se eu fosse a neta ou a filha deles grávida, acreditem que muitos outros olharam e pensaram "não acredito, uma grávida! de certeza que o tour vai demorar mais do que devia, ou que não vamos ver algo porque ela vai sentir-se mal" e sim, alguns grupos não aceitam simplesmente que uma guia esteja grávida - alguns por motivos culturais, como os japoneses; outros por motivos que deixo à vossa imaginação!
Assim, estes nove meses foram uma boa aventura. Estar grávida não é doença, mas exige realmente um cuidado triplicado.
Disse muitas vezes que todas as pessoas deveriam passar pela experiência de viver UM DIA de uma grávida, assim com 7 meses! O mundo mudaria muito, muito!
E o meu está prestes a mudar, a aventura da gravidez chega ao fim, mas a aventura de ser mãe está apenas no início!
Abraço a todos e um grande obrigada!
Fotografia: Fabrice Pinti, aka Chtcheglov