Gosto de fotografia porque congela momentos, eterniza segundos, porque nos obriga a olhar e ver instantes da vida que tantas vezes deixamos passar. Sejam imagens planeadas ou a mais pura realidade, acho que é esse o efeito maior da fotografia: ver a vida perante nós.
Não conhecia Lu Nan, e pouco conheço de fotografia chinesa, por isso decidi ir visitar a exposição no Museu Berardo.
Que embate!
“Lu Nan. Trilogia, Fotografias” apresenta uma selecção de trabalhos de uma trilogia que teve início em 1989 e que ficou concluída quinze anos depois, em 2004.
Uma espécie de modernização do Inferno, Purgatório e Paraíso da Divina Comédia de Dante, mas onde tudo acontece na Terra, mais especificamente na China.
O primeiro espaço mostra-nos a vida dos hospitais de doenças mentais (realizada entre 1989 e 1990). Imagens que tão depressa não desaparecerão da minha mente. Os olhares, o abandono, o nada que ali se vê. A certa altura não aguentei tanta crueza e, já de lágrimas nos olhos, decidi avançar rapidamente para o segundo tema.
As comunidades católicas nas zonas rurais e mais recônditas da China (1992 a 1996), a fé, a esperança, a crença em meios tão pobres. E se essas fotos me fizeram questionar o modo como vivemos, como a sociedade se organiza e como há tantos mundos no Mundo, a terceira parte ainda mais.
Enquanto olhava uma comunidade que vive de acordo com o ritmo da natureza, que espera, que acolhe só e apenas aquilo que plantou, que sem "iaparelhos" vive o dia a dia, pensava - "e agora? como podemos continuar a ouvir notícias de transações de biliões de euros em bancos, em produtos, em jogadores e saber mais que sabido que há pessoas que mal comida e água têm?".
Mas ao mesmo tempo que me abatia a questão da pobreza, percebia que talvez eles não sentissem essa pobreza, talvez eu, com os olhos do "primeiro mundo" visse uma pobreza mais forte do que na verdade é.
Parei muito tempo perante essas fotografias - a vida quotidiana do Tibete (1996 a 2004), casais, avós e netos, crianças a brincar, actividades de quem faz a sua vida de raiz. Será que ali há tempo para pensar nos porquês da vida? No "de onde venho para onde vou?", nos objectivos de vida, nas metas a alcançar, nos sucessos? Duvido que ali se sinta o aborrecimento que tantos jovens dizem sentir.
Uma lição de vida, é o que são estas imagens, mas talvez quem as tenha de ver feche na mesma os olhos.
A exposição fica patente até ao dia 14 de janeiro de 2018.