A Teia da Guia começa 2018 com um novo desafio, escrever para o site Reveal Portugal 😊
Aqui pretende-se mostrar o que de melhor se faz por cá: a nossa história, cultura, tradição e modernidade.
Este é o meu primeiro artigo escrito sobre as lindas andorinhas de Bordallo Pinheiro.
Leiam, partilhem e digam-me o que acham.
Obrigada por me acompanharem sempre.
A andorinha é uma pequena ave, entre 13 e 21cm de comprimento, que pode viver até 8 anos. É resistente, tem uma óptima orientação, é ágil no seu vôo e gosta de locais quentes.
É é por gostar de locais quentes que no Outono, quando as temperaturas baixam, parte para outros locais, chegando a percorrer até 20 mil kms. Quando as temperaturas voltam a subir, a andorinha regressa ao exacto local onde nasceu. Nessa altura podemos observar os bandos a bailar no céu português. Pouco depois iniciam a construção dos seus ninhos nas varandas, janelas e chaminés brancas, fazendo-nos acreditar que são um cunho da casa tradicional portuguesa! Raphael Bordallo Pinheiro imortalizou a andorinha numa das suas famosas figuras de cerâmica. Nascido em Lisboa no seio de uma família ligada às leis e às artes, Bordallo Pinheiro escolhe o meio artístico, primeiro como caricaturista e depois como ceramista, exaltando sempre o lado satírico da vida. Atento ao que caracterizava a alma portuguesa, cria um universo em que retrata a sociedade do séc XIX do povo à família real; todos nós conhecemos o Zé Povinho, a Maria da Paciência ou o Padre. Criou também azulejos, painéis, potes, centros de mesa, jarros, bustos, fontes lavatórios, bilhas, pratos, perfumadores, jarrões e representações da fauna e flora portuguesa, muitas delas com formas agigantadas.
Foi graças a ele que, quando chegava o Outono e as andorinhas partiam, se matavam as saudades colocando uma representação da mesma em cerâmica na fachada da casa.
Em Portugal podemos observar 5 espécies: a andorinha-dos-beirais, a andorinha-das-chaminés, espécies que encontramos nas zonas urbanas, a andorinha-dáurica, a andorinha-das-barreiras e a andorinha-das-rochas, espécies das zonas naturais. Sendo que esta última vive o ano todo no nosso território.
Junto com um dos seus doze irmãos, Bordallo Pinheiro adquiriu uma fábrica nas Caldas da Rainha, pois era ali que estava o melhor barro, a melhor terra e os melhores artesãos. Assim, em 1884, nasce a Fábrica de Faiança Artística.
Devido à grande qualidade artística e criativa, as peças de Bordallo ganharam rapidamente fama internacional e chegaram ao Brasil, Espanha, França e EUA. A Fábrica viveu então tempos áureos.
Após a sua morte é o filho que toma a cargo a continuação da fábrica e mais tarde, depois de 1920, são os operários que a mantêm em funcionamento. Actualmente pertence à empresa Visabeira que pretende manter vivo tão importante património nacional, pois tempos houve em que estas peças foram consideradas artesanato de pouca relevância. O apoio de artistas contemporâneos, como a pintora Paula Rego ou a artista plástica Joana Vasconcelos, foi crucial para que houvesse interesse em manter a Fábrica em funcionamento.
As peças voltam a ser produzidas e são muito bem recebidas a nível nacional e internacional. Os moldes das figuras estavam extremamente bem preservados e prontos a ser utilizados. O molde mais antigo de uma andorinha data de 1891!
Hoje abraçamos novamente a andorinha que "a avó tinha por cima da chaminé da cozinha". Tiramo-la da caixa onde estava guardada e voltamos a dar-lhe vida. Porque esta pequena ave possui um único parceiro ao longo de toda a sua vida, é tida como símbolo da família, do amor, da fidelidade e da lealdade. Não há figura mais perfeita para decorar o lar. Mas por anunciar a Primavera é também em homenagem à ressurreição, fecundidade e renovação.
Estamos a começar um novo ano. Porque não celebrar estes valores?
Bom ano! Construam um bom ninho.