Quando pensarem na Golegã não pensem só em cavalos, pensem também em fotografia.
Novo artigo para o site Reveal Portugal.
A origem da fotografia tem ADN português
Pessoalmente adoro fotografia, pois como disse Dorothea Lange “a câmara é um instrumento que ensina as pessoas a ver sem câmara”.
Assim, quando descobri que Portugal tem um dedinho importante no início da história da Fotografia, senti-me cheia de orgulho e de alegria.
Louis Daguerre, o autor da primeira patente para um processo fotográfico, por volta de 1839, vem de uma família com origens portuguesas: os Da Guerra,
Esta era uma família de judeus lisboetas que se viu obrigada a emigrar aquando da Inquisição. Refugiaram-se primeiro numa aldeia junto à fronteira espanhola e depois em terras francesas. Chegados a Paris, o nome de família foi "afrancesado", passando para “Daguerre”.
Golegã e um tesouro nacional para além dos cavalos
A outra descoberta relacionada com o mundo fotografia que muitos “ahs” e “ohs” de espanto me fez dizer foi a Casa-Museu Carlos Relvas, situada na Golegã. Trata-se de um estúdio fotográfico do século XIX, pensado ao mais pequeno pormenor e extremamente moderno para a época - um tesouro da história da fotografia nacional e internacional.
Carlos Relvas – o Mr. Gadget português
Carlos Relvas, herdeiro de uma família abastada ligada à agricultura, viveu na segunda metade do séc. XIX. Apaixonado pelas ciências e pela cultura, Relvas era um estudioso: falava várias línguas, sabia esgrima, tocava piano, montava a cavalo, adorava fotografia e tudo que estivesse relacionado com invenções nas mais diversas áreas.
Dono de vastos terrenos na Golegã, tinha uma casa bem no centro da cidade, uma praça de touros privada (cujo dinheiro dos espectáculos revertia para caridade) e um estúdio fotográfico, que após restauro em 2003, foi elevado a monumento nacional.
Nessa casa/estúdio, Carlos Relvas fotografou familiares, mendigos, auto-retratos e, inclusive, a Família Real, constituindo um acervo fotográfico de aproximadamente 12 mil fotografias.
Apesar de se ter considerado sempre um fotógrafo amador, Relvas foi distinguido com prémios internacionais, como, por exemplo, a medalha de ouro da fotografia na Exposição Universal de Paris de 1889.
O estúdio surpreende qualquer amante da fotografia. Com dois andares, era composto por salas para os retratos (onde montava cenários riquíssimos, sem descurar o mais pequeno detalhe, encomendando a mobília e as decorações de Paris), salas de impressão, uma sala de maquilhagem, câmaras escuras e toda uma parafernália de material moderníssimo para a altura. O primeiro andar é talvez o que mais fascina: completamente envidraçado, Carlos Relvas apetrechou-o com um sistema totalmente inovador de cortinas e roldanas para poder "brincar" com a luz, controlando a quantidade de luz difusa e directa, digamos, uma invenção que tinha a funcionalidade dos actuais flashes e reflectores.
Uma visita à Casa-Museu Carlos Relvas é uma viagem à sociedade portuguesa do século XIX, mas também a um mundo de invenções, não só na fotografia, como nas áreas que Relvas adorava explorar. Não deixem de ver o seu colete salva-vidas feito em cortiça e um barco que nunca virava, chamado o “Sempre em Pé”.
Bom passeio!