Como decoram a vossa casa na época do Natal?
Árvore? Presépio? Ambos?
A pergunta pode parecer estranha, mas sabiam que tradicionalmente, em Portugal, decorava-se a casa apenas com um presépio com o Menino Jesus nas palhinhas?
Pois é! É somente no séc. XIX, com D. Fernando - um príncipe germânico que se tornara rei de Portugal através do casamento com D. Maria II, que a Árvore de Natal chega a Portugal.
Na Alemanha era costume montar-se nessa época uma árvore enfeitada com frutos, bonecos, bolas e velas.
D. Fernando quis perpetuar essa tradição com a sua família. Assim, um Natal, decidiu fazer no palácio uma árvore para os seus 7 filhos e colocar presentes ao lado da mesma.
Começa então em Portugal um novo hábito: a árvore e os presentes, que significam também uma mudança na sociedade - dar valor à criança enquanto tal e esta festa torna-se por excelência, a festa dela.
É no período do Romantismo que se deixa de olhar para a criança como um adulto. É também neste tempo que se começa a valorizar o espaço íntimo, acolhedor, quente, familiar, que se promove a aproximação entre pessoas e se contam estórias durante os serões.
O ambiente doméstico ganha valor, assim como a relação pais-filhos.
No Natal passa-se a associar a entrega dos presentes àqueles que foram trazidos pelos Reis Magos para oferecer ao Menino Jesus.
D. Fernando II mandava decorar um abeto com velas, laços e bolas de vidro transparente, que era colocado, em cima de uma mesa, na sala de estar privada da Família Real, no Palácio das Necessidades. Também se costumavam colocar na árvore algumas guloseimas (chocolates e saquinhos de celofane com frutas cristalizadas). No dia 24 à noite, o rei vestia-se de S. Nicolau e ele próprio entregava os presentes que trazia dentro de um grande saco, aos seus filhos.
Como sabemos tudo isto? Através das gravuras e águas-fortes que ele próprio executava.
Após a família real, as famílias nobres começaram a fazer o mesmo, e posteriormente o povo.
Mas porque é que na Alemanha decoravam uma árvore?
A árvore é considerada por alguns como uma "cristianização" de tradições e rituais pagãos em torno do solstício de inverno.
A árvore por si só simboliza a aliança entre os céus e a terra, pois tem as raízes fincadas no solo mas os ramos a tocar o céu e desde os tempos dos celtas que muitas espécies de árvores são adoradas.
Conta-se, por exemplo, que na Assíria, a deusa Semiramis havia feito uma promessa aos assírios: quem montasse uma árvore com enfeites e presentes em casa, no dia do seu nascimento, iria ter a casa abençoada para sempre.
No entanto a tradição na Alemanha está associada a Martinho Lutero, autor da Reforma Protestante do séc. XVI. Conta a lenda que por volta de 1530, olhando para o céu através de uns pinheiros que cercavam o caminho, Martinho viu o céu intensamente estrelado parecendo-lhe um colar de diamantes. Estupefacto com tamanha beleza, decidiu arrancar um galho do pinheiro para levar para casa e colocou-o num vaso com terra, chamando a esposa e os filhos. Decorou-o com pequenas velas acesas presas nas pontas dos ramos, com papéis e enfeites coloridos. Pretendia assim mostrar às crianças como deveria ser o céu na noite do nascimento de Jesus e o que ele tinha visto lá fora!
Gravura de 1848: D. Fernando vestido de S. Nicolau e os seus 7 filhos.
Boas Festas!