Já vos falei da revista 02 Sul, uma revista que apresenta o melhor da Margem Sul , confesso que ao tornar-me leitora assídua, dei por mim a pensar na quantidade de locais que ainda não visitei.
Por vezes pensamos que já vimos tudo, mas a verdade é que há tanto por descobrir. O mundo não é só a cidade onde vivemos ou aquelas 2 cidades sobre as quais vemos publicidade constante. O mundo é tudo o resto e felizmente, tudo o "resto" está cada vez mais bonito, acessível e cheio de vida.
Foi assim, nessa vontade de descobrir tesouros fora dos grandes roteiros que cheguei à Casa Roque Gameiro na Amadora.
Amadora... uma cidade que provavelmente a maioria identifica como subúrbio, como o local do evento Amadora BD, mas há tanto mais para viver.
A Casa Roque Gameiro é um desses pontos a descobrir.
Alfredo Roque Gameiro nasceu em Minde, Porto de Mós, a 4 de Abril de 1864. Trabalhou em Lisboa como desenhador litógrafo, estudou dois anos em Leipzig e regressou a Portugal em 1886. Trabalhou sempre naquilo que mais amava, a Arte da Aguarela, ilustrou obras, realizou obras pessoais, participou regularmente nos salões anuais do Grémio Artístico e ensinou na Escola Industrial do Príncipe Real. Em 1900 os seus trabalhos foram seleccionados para integrar as exposições da delegação portuguesa na Exposição Universal de Paris, tendo recebido uma Medalha de Honra.
As suas aguarelas aliam uma qualidade técnica, de rigoroso desenho, a atributos expressivos num trabalho lindíssimo de captação da luz e da cor. Aborda temáticas variadas como o retrato, a paisagem, as cenas rurais e urbanas, mas dedica-se sobretudo a marinhas. A sensação que temos ao observar a sua obra é a de que estamos a olhar por uma janela para uma situação que está ali, a desenrolar-se perante os nossos olhos.
Algumas obras mais famosas são a Grande Edição Illustrada de Os Lusíadas, publicada em Lisboa pela Empreza da História de Portugal, em 1900, juntamente com Manuel de Macedo ou as Pupilas do Senhor Reitor (que podem ser vistas na visita à Casa).
Casou em 1888 com Maria da Assunção Carvalho, tiveram cinco filhos - Raquel,Manuel, Helena, Rui e Maria Emília (Mámia, como ficou conhecida). Passou-lhes o gosto pela arte: as duas filhas mais velhas são desenhadoras e pintoras. Manuel seguiu idêntico percurso durante algum tempo, mas, mais tarde, optou por uma outra via profissional. Rui era um promissor escultor, mas faleceu novo e Mámia trabalhou a pintura a óleo.
Em 1898 Roque Gameiro mudou-se com a sua família da Lapa para o Alto da Venteira que, à época, era um local bastante aprazível, rodeado de campos e searas e para onde as famílias senhoriais se refugiavam do rebuliço da cidade de Lisboa.
O projeto inicial da casa, que corresponde ao piso da entrada principal e ao torreão, construída para habitação do pintor e sua família é atribuído ao próprio Roque Gameiro. Mas em 1900, Roque Gameiro mandou ampliar o edifício com a construção de mais dois pisos.
Este projeto foi de autoria de Raul Lino e a Casa é um exemplo típico do conceito da “Casa Portuguesa”, inspirada na arquitetura popular das diferentes regiões do país.
A família Roque Gameiro deixou a Casa da Venteira em meados dos anos 20 para regressar a Lisboa, mais concretamente em Campolide, onde ainda hoje vivem alguns dos seus descendentes. O que aconteceu à casa na Venteira até finais dos anos 60 permanece ainda uma incógnita. Sabe-se que o edifício pertenceu a mais do que um proprietário e que, em 1959, o primeiro e segundo pisos da Casa, correspondentes a antigas arrecadações, haviam sido alterados e serviam de habitação a três ou quatro famílias. Em meados da década seguinte a habitação de Roque Gameiro serviu de sede a uma associação local.
A Câmara Municipal da Amadora herdou mais tarde este espaço e empenhou-se na sua reutilização como Casa da cultura, da educação permanente e do lazer. A sua missão é organizar e promover exposições temporárias e outras atividades culturais relacionados com Alfredo Roque Gameiro e família, com a construção da Casa, com Rafael Bordalo Pinheiro (responsável pela decoração da sala de jantar e pelos materiais de construção) ou Raul Lino.
O factor supresa desta visita começa logo no muro de entrada da casa onde estamos perante uma obra de Addfuel.
Depois continua pelos pátios e suas fontes, pelos espaços com relvado em vários patamares, bancos, varandas e flores.
A Casa faz-nos arregalar os olhos com a decoração de azulejos, os pormenores da cozinha, o elevador em madeira e as vistas.
O silêncio ainda impera por ali, fazendo-nos sentir os donos da casa.
Aconselho vivamente a visitarem com crianças, elas vão divertir-se muito no espaço exterior.
Aproveitem que o sol está de volta e descubram este pequeno cantinho.
À saída olhem para as varandas do prédio em frente...
Divirtam-se. Vivam a Vida.
Entrada Livre
3.ª feira a sábado, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 Domingo, das 14h30 às 17h30 Encerra 2.ª feira Aberto aos feriados
Praçeta 1º de Dezembro 54
2700-668 - Amadora