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A Dica da Maria João - Arte Urbana

Um dos propósitos deste site é tecer uma teia que aumente e aumente tocando os mais diversos temas, conhecendo novas pessoas, alargando os nossos conhecimentos.

Recentemente a Margarida Pereira apresentou-me a Maria João Baptista, uma outra colega de profissão e a empatia foi imediata.

A Maria João tirou o curso no ISLA (1982-85), mas curiosa e sempre com vontade de aprender mais, fez uma graduação mais tarde em restauro de madeiras (por esses palácios fora há peças restauradas por ela).

Nos últimos anos tem-se interessado pela Arte Urbana, tema que a faz brilhar quando começa a falar dele.

Hoje fica a Dica da Maria João para um passeio futuro pelas ruas de Lisboa, que se tornou um destino incontornável para os fãs desta arte.


"Em tempos de confinamento apetece-me falar de Arte Urbana, da rua, da liberdade de passear e descobrir pequenos pormenores que embelezam a cidade e lhe dão mais significado. Da capacidade de Ver, dos Olhos e do Olhar. E não vou falar dos grandes painéis nem dos sobejamente conhecidos Vhils, Bordalo II, Tâmara Alves, Montaigne, Styler e afins. Apetece-me falar dos pequenos detalhes e ínfimos pormenores que se revelam, quase como um jogo de Onde Está o Wally?, ao olhar mais atento.

Nós, guias-intérpretes, temos o olhar treinado para encontrar assunto nas fachadas de azulejos, nas balaustradas dos telhados, nas copas da árvores ou numa simples pedra na rua... Cada tema leva a que o nosso olhar se desenvolva de forma diferente. Também para a Arte Urbana é preciso ter olho treinado. Agora há que estar atento aos cantos mais esconsos, às traseiras, debaixo de pontes e viadutos, fachadas degradadas, "atrás das paredes" como gosta de dizer uma colega.

Esta arte, que surgiu da necessidade de demarcar território entre gangues rivais, à revelia das autoridades e dos proprietários, começa numa ágil assinatura mas rapidamente se desenvolve na elaboração do desenho que a envolve para que a dita assinatura seja disfarçada e apenas reconhecida entre pares.

É a cultura Hip-hop num movimento conjunto das Crews. Não nos podemos esquecer que Graffities, Rap, Break e DJing são uma globalidade cultural que temos de ver e sentir em conjunto. DJ's misturam "beats" em "loop"para criar música. Ao seu ritmo dança-se Break e pinta-se Graffities. E há sempre os poetas que escrevem para as músicas, RAP (Rhythm And Poetry), letras de fortíssima intervenção. Poesia nua e crua com uma rima e métrica irrepreensível.

Daí até ao desenho mais artístico e decorativo foi um salto. Desenvolvem-se técnicas além do spray como o stencil ou os paste-ups e passa a aceitar-se o pincel e o rolo. Sempre com carácter ilegal o graffity revela-se uma forma pacífica de combate à desigualdade social, à posição política, à máfia económica, à defesa de direitos...

Mais recentemente a legalização de paredes, os festivais e a contratação de artistas para grandes murais passou a generalizar e difundir cada vez mais esta arte. Encontramo-la espalhada pelas ruas como se de um infinito museu se tratasse. E, neste caso, um museu mais completo e abrangente. Um museu onde cabem os grandes e os pequenos criadores. Um museu que não expõe apenas as grandes obras mas onde se podem ver as peças menores e tb as que têm menos relevância. Um museu que tanto é espaço de exposição como de experimentação. Um museu que chega a todos. Cabe-nos, com tolerância, escolher o que preferimos ver no que o vandalismo ou a legalidade nos trazem.

Deixo-vos com obras de 2 grafitters que aprecio particularmente e que desafiam o nosso Olhar e o nosso Ver na descoberta das suas pequenas criações.

NORIAKI, um polaco que desenha uns Olhos Humanizados, os Watchers ou Mr Periscópio. Há quem o considere o novo Bansky. Demora desde 30 segundos a fazer uma miniatura até 6 minutos para produzir um Watcher de 2 metros. Temos vários espalhados por Lisboa.


MAURO NERI, brasileiro, educador, formado em Artes Visuais na Academia de Belas Artes de Bolonha. Usa sempre as palavras Ver e Cidade transformando-as em Veracidade. Assina com uma pequena casa amarela com telhado castanho. A casa lugar seguro, a casa física, a casa existencial, a casa do actual confinamento. Acompanha ainda uma figura feminina alongada, com o olhar voltado ao céu e cabelos esvoaçantes. A sua mãe é costureira e fez-lhe uma mochila com a casinha amarela que ele carrega por todo o lado. Também temos imensos trabalhos dele, só temos de abrir os Olhos para os Ver na Cidade. E tu, quantos vais encontrar?"


Esta última fotografia foi retirada do instragam de Mauro Neri.

Maria João Baptista

mjmcbc@gmail.com


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