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A Dica da Cristina - As andorinhas

Hoje gostaria de falar de uma das aves que mais gosto, as andorinhas... E nos dias turbulentos que vivemos nada melhor para personificar a esperança, a renovação e a alegria.

Todos nós já as vimos em lojas ou nas fachadas de edifícios as famosas andorinhas de Bordalo Pinheiro, eu, por exemplo tenho 3 à entrada da minha porta.

Esta ave sempre exerceu sobre mim um fascínio difícil de explicar... Recordo-me especialmente na minha infância das minhas idas ao Alentejo e olhar fascinada para as centenas de ninhos que cobriam os beirais das casas. A maioria das pessoas detestava-as pela sujidade e barulho que faziam, eu pedia secretamente que elas viessem fazer ninho na casa da minha avó. Contudo, para minha grande desilusão nunca vieram e tive de me contentar em observá-las de longe. Aves espertas, pois creio que a minha avó rapidamente lhes teria acabado com o atrevimento de fazer ninho nos seus beirais. Era uma típica alentejana, orgulhosa da alvura das suas paredes caiadas e ai daqueles que ousassem sujá-las!

Apesar de em Portugal existirem apenas 5 espécies mais conhecidas, são mais de 80 espécies no mundo inteiro e estão espalhadas pelos 5 continentes (excepto na Antárctica devido às baixas temperaturas).

Chegam ao nosso país entre Março e Abril, em grandes bandos ruidosos anunciando a Primavera. Regressam sempre ao mesmo ninho e com o mesmo parceiro, e talvez por isso seja uma ave associada à lealdade, amor e fidelidade. Ficam por cá durante todo o Verão, alimentando-se de insectos e reproduzindo-se. No Outono partem para uma longa migração de 2 meses, partem anunciando o fim dos dias longos e a chegada de dias mais frios, vão para paragens onde as temperaturas são bem mais agradáveis. São animais extraordinários porque durante a migração podem percorrer mais de 70.000km por ano. Mas voltam sempre. Há quem lhes chame o pássaro da partida e do retorno. Talvez por isso começaram lentamente a ocupar as nossas fachadas. Tudo começou com Bordalo em finais do séc.XIX e estava muitas vezes associadas à partida dos emigrantes dos seus lares para tentar a vida lá fora. As andorinhas em cerâmica simbolizavam o desejo de retorno a casa, ao lar.


Muitos poetas também lhes dedicaram algumas estrofes, como o nosso Fernando Pessoa... «Andorinha que vais alta, Porque não me vens trazer Qualquer coisa que me falta E que não te sei dizer?»


Também os marinheiros no início do séc.XX tatuavam andorinhas na esperança de voltar a ver terra firme, o seu lar e pessoas amadas. Era o prenúncio que a terra estava perto e os corações começavam a bater mais forte quando eram avistados ao longe. E quando estes morriam em alto mar dizia-se que as suas almas eram levadas por andorinhas. Sabiam que o Johnny Depp tem uma andorinha tatuada?

Por esse mundo fora existem várias lendas associadas a esta ave extraordinária. Na China está associada à fertilidade pois há quem defenda que Confúcio nasceu de um ovo de andorinha... Na China antiga era considerado um símbolo de fidelidade e o seu regresso, no equinócio da Primavera surgia associado a rituais de fecundidade. Na Antiguidade aparece ligada a Isis, a deusa da fertilidade, da maternidade e do lar. Durante a noite transformava-se em andorinha para pairar sobre o sarcófago do seu esposo querido, Osíris e lamentar a sua partida. No Islão consideram-no o pássaro do paraíso, representando a renúncia e companheirismo. No Mali aparece associado à manifestação do Deus Faro, o senhor das águias e da pureza. Acreditavam que recolhia o sangue das vítimas que lhe eram oferecidas em sacrifício e os levava até aos céus. Mas regressavam em forma de chuva para fertilizar a mãe terra. Há outras lendas onde o significado é bem diferente e muito menos positivo. Os persas, por exemplo, acreditavam que por partir era uma ave associada à dor da partida e da separação, à solidão que pressupõe o ver partir as pessoas amadas. Há também uma lenda no sul da Bélgica que diz que os espinhos da testa de Cristo foram retirados por uma andorinha. Talvez por isso ainda hoje, entre os mais velhos, em Portugal, há quem acredite que retirar um ninho leva a uma punição divina. Sonhar com andorinhas é também um bom prenúncio... Pode simbolizar momentos felizes e boas notícias, paz e harmonia e o regresso de alguém que nos é querido.

Hoje deixo-os com as andorinhas e tudo aquilo que elas representam: a esperança, a alegria e a paz. Mas sobretudo a ideia de renovação a elas subjacente, mas já diz o ditado «Que uma andorinha não faz a Primavera...» Hoje mais que nunca temos de olhar para dentro de nós e tentar encontrar essa luz e essa «primavera» que elas anunciam... Só nós, em conjunto com todos aqueles que amamos podemos voltar a trazer esperança às nossas vidas.

Cristina Teixeira



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